sábado, 5 de junho de 2010

Pedofilia é crime

Cidades - Pedófilos preferem as crianças menos ativas


Cejane Pupulin

Crianças com baixa autoestima, com sentimento de abandono são as mais vulneráveis a serem vítimas de pedofilia. Em pesquisa realizada pelo Programa Repropondo: Atendimento Psicoterapêutico a Autores de Violência Sexual, desenvolvido pelo projeto Invertendo a Rota, coordenado pela psicóloga Karen Michel Esber, mostrou que um autor da agressão sexual afirmou que prefere crianças mais quietas e oprimidas, que não denunciam, diferentemente das crianças mais ativas.
O antropólogo, pesquisador e secretário executivo da Secretaria Estadual dos Direitos Humanos (Sedh), Benedito Rodrigues dos Santos, explica que essa vulnerabilidade da criança faz com que elas não se defendem e se sintam diferente das outras. A falta de supervisão em casa torna o menor em uma presa. “Qualquer que seja a vulnerabilidade, o adulto é que deve impor o limite, ele não pode ultrapassar a barreira ética e moral”, explica.
De acordo com a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Adriana Accorsi, há um perfil geral da vítima, que são crianças humildes, de áreas periféricas e de famílias destruídas. “Sabemos que há pedofilia em todos os lugares, mas em setores de classe média ou alta são dificilmente revelados, há o medo de vexame”, explica a delegada. Ela complementa que esse é o grande motivo das subnotificações dos casos de agressão sexual contra menores, apenas cerca de 20% são notificados.
Adriana afirma que mais da metade das vítimas de abuso sexual são meninas, sendo a maior são da faixa etária de 5 a 12 anos. Números da delegacia mostram que, de janeiro a julho deste ano, 37 menores foram vítimas de estupro em Goiânia. No mesmo período do ano passado, foram 33. Durante todo o ano de 2008, 56 crianças e adolescentes foram agredidas sexualmente.

Motivos não são apenas sexuais
A psicóloga Karen Michel Esber atendeu reeducandos do Complexo da Agência Goiana do Sistema Prisional e adolescentes em privação de liberdade do Centro de Internação de Adolescentes (CIA), e explica que existe apenas um perfil das pessoas presas por pedofilia. “Elas não têm condições financeiras para conseguir a liberdade.”
“Não existe perfil do pedófilo”, afirma a psicóloga Karen Michel Esber. O agressor pode ser de qualquer classe social, cor, raça e estado civil. Grande parte dos que cometem o crime não é pedófilo, isso é, não tem diagnóstico clínico desse transtorno psicológico. Segundo Karen, não é toda pessoa que apresenta pedofilia no quadro clínico comete o abuso sexual, e nem todos os agressores sexuais são pedófilos. “A grande parte dos agressores não são pedófilos”, explica.
A psicóloga afirma que um pedófilo pode ter vários motivos para cometer o delito. Para Karen, os motivos não são apenas sexuais – onde há jogos de sedução, mas há a vingança – em que o autor desconta a infância infeliz, oportunismo e também as relações de poder. “Os autores não são uma categoria específica”, explica.
Karen Michel Esber afirmou que nem sempre o agressor faz parte da família, mas são conhecidos. Inicialmente eles seduzem a família e, posteriormente, a criança.
“Como são amigos, os pedófilos têm liberdade de levar a criança para o parque ou cinema e nesses passeios, onde começa os contatos físicos, como mão na perna da criança”.
Nesses casos, a terapeuta informa que esse tipo de agressor não usam de violência e não deixa marcas físicas, que são facilmente comprovadas no exame de corpo e delito “Eles praticam o sexo oral ou masturbam a criança”.
A delegada Adriana informa que 99% dos agressores possuem relação de poder com a criança, seja econômica, religiosa ou sentimental. São padrastos, pais, avós, representantes religiosos. “Há aumento de casos de abuso sexual de pessoas ligadas à crença. Os pastores, padres, professores de música das igrejas têm a confiança da família da criança. Eles ganham acesso livre à residência e à vítima”.
Os pedófilos são na grande maioria homens. Para Karen, a mulher também pode ser a agressora, mas a figura feminina é vista como cuidadora, a avó, babá, a mãe. “O abuso feminino é muito difícil de detectar, já que ela é a responsável pela higiene física da criança. O menor não sabe diferenciar se a mãe está limpando ou abusando”. A delegada da DPCA afirma que as mulheres geralmente são presas por omissão de socorro a vítima.

Pais devem ensinar filhos a se defender
A psicóloga explica que os pais podem prevenir com a educação que o menor seja vítima de abuso. “Ensinamos para as nossas crianças ter cuidado com estranhos, drogados, mas não com os pais, tios ou pessoas próximas. Devemos ser menos moralistas e oferecer educação sexual”.
O antropólogo Benedito afirma que a própria criança necessita ser ensinada a se defender. “Devemos dar autonomia para os menores. Essa capacitação também é função da escola, com ações preventivas para a criança conhecer os sinais de abuso sexual”. Para o pesquisador, muitas famílias não conseguem dialogar com os filhos.
“O índice de agressores que sofreram abuso quando criança é maior, mas não é determinante”, afirma a terapeuta. Ela complementa que não basta apenas tratar a vítima, mas o agressor. “Reconhecer a história de vida dos pedófilos não significa justificar. Curar o agressor para que quando ele sair da prisão não volte a cometer o delito”.

Vítima
No dia 24, um menino de 8 anos foi estuprado em um banheiro do Educandário Rainha da Paz, na Vila União. O crime foi descoberto pela mãe do garoto quando o filho teria reclamado de dores na região anal alegando uma possível assadura. Ao analisar, a mãe percebeu a existência de sêmen no corpo do filho, e informou o pai, que procurou a polícia.
O garoto disse que denunciou o abuso à professora, que não avisou a polícia. De acordo com relatos do estudante, um andarilho que teria pedido para usar o banheiro pouco antes da queixa do menino poderia ser o autor.
O menino fez exame de corpo de delito, que confirmou o abuso. A direção da escola nega a denúncia do aluno à professora, mas a Polícia Civil informou que acredita na história do garoto porque ele manteve coerência desde o início da denúncia.

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